por Marco Aurélio Careta
A ruptura com a tradição é uma atitude negacionista que visa deletar o passado e com isso apagar a história e a memória coletiva. Com tal medida, cria-se no presente um espaço para que narrativas no mínimo ardilosas se estabeleçam. Tal promoção de certa amnésia coletiva, tal como o emburrecimento programado pelas diretrizes curriculares nacionais de ensino, são medidas cuja uma de suas finalidades é desarticular o ser na sua dimensão social e, inclusive, individual. Uma das falaciosas formas de se sustentar moralmente essa ruptura com o passado, se dá por meio da afirmação de que a subserviência à tradição é um aprisionamento e que, portanto, a ruptura se faz necessária.
Acredito que o diálogo com a tradição da arquitetura ocidental seja inevitável e necessário nesses tempos de tamanha promoção da ignorância. A história explica parte do presente e instrumenta a consciência para a construção do que está por vir. Acredito na liberdade poética diante da tradição, mas não na exclusão de nenhuma delas.

O Palazzo Rucellai é uma obra de Leon Battista Alberti situado em Florença, Itália. O renascimento, contexto histórico-artístico no qual tal palazzo foi criado, é amplamente marcado pelo diálogo com a Tradição. A obra de Alberti, que ilustra este texto, guarda em si a reflexão de um arquiteto durante a criação de seu projeto, reflexão esta que se realizou num determinado tempo e de forma crítica com a tradição que, dentro daquele próprio momento, subsistia.
